sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

O espírito da coisa

Verdade! O Beco do Crime não acabou. E vai continuar em 2013, espero que com mais frequência, pois tem muita coisa boa para aparecer por aqui.
Devagar se vai ao longe, a pressa é inimiga da perfeição e blablablá... chega de besteira... Tem muita coisa acontecendo e não dá para ficar perdendo tempo com lenga lenga! Já estamos muito atrasados. No delito de hoje, uma história nobre de superação do medo... um ato de coragem e de uma enorme cara de pau!
Desta vez, o delito é sobre The Spirit, o filme de Frank Miller, um dos gênios dos quadrinhos nos anos 80. The Spirit é obra de Frank Miller, assinatura de Frank Miller e CAGADA (grande, em letras maiúscula mesmo) de Frank Miller. O filme é prova definitiva que Miller está completamente gagá, senil e que perdeu todo o senso crítico e noção de rídiculo!
Para quem está chegando agora e não conhece o Spirit, uma rápida introdução do personagem: The Spirit é a imortal criação do genial Will Eisner. Sacaram a adjetivação toda? Entenderam o exagero? É para deixar bem claro o tamanho da CAGADA do cara de pau do Frank Miller.
O personagem apareceu pela primeira vez em 2 de Junho de 1940 em um suplemento dominical nos Estados Unidos. A trama traz as aventuras de um vigilante mascarado que combate ao crime em Central City com a benção do Comissário de policia Dolan. Dolan sabe a verdadeira identidade de Spirit, um dos seu detetives, Denny Colt, dado como morto no cumprimento do dever. As histórias seguem variados estilos do noir a simples aventuras, de horror a comédia, do mistério ao romance. Sempre com um tom bem humorado e leveza. Com Spirit, Will Eisner começou o seu trabalho que elevou a história em quadrinhos em arte. Saindo do estilo “quadradão” e careta dos quadrinhos feitos a época, Eisner inventou, derreteu quadrinhos, estourou balões, escondeu títulos, mostrou títulos, fez coisas impensáveis, conseguiu reconhecimento de crítica e público e forjou o termo Graphic Novel! E todo este trabalho em preto e branco. Eisner levou cortes cinematográficos para seus trabalhos, sem medo de ousar. Desenvolveu um estilo único, copiado por todos que vieram depois. Sem Eisner não existiria Frank Miller e Cavaleiro das Trevas ou Ronin...
E Frank Miler se achou no direito de achincalhar a obra de Will Eisner! Criou um filme com um visual até interessante, mas sem muito a ver com o Spirit original de Eisner, e descaralhou toda história do personagem… Recheou o filme de belas mulheres e só… Tem um Samuel L. Jackson histérico e ridículo com poderes incompreensíveis e com uma relação inventada e mau explicada com o Spirit…
Repetindo o estilo visual usado em Sin City, Miller tenta de todas as formas criar uma obra que... o que..., sei lá, não consegui entender o que o cara tentou fazer... Não é Sin City e não chega nem perto do que seria interessante para Spirit (talvez o visual de Sky Capitain fosse o mais adequado para esta adaptação).
Sempre achei que para fazer um bom filme baseado em Hq, antes de mais nada é necessário um mínimo de respeito com os fãs e com a história… Não dá para esquecer ou subverter o que funciona durante anos de uma hora para outra, não é preciso reinventar a roda...
Não se pode inventar uma nova origem para um personagem e esquecer anos de mitologia… Stallone se estrepou em Juiz Dread, a Warner quis inventar com a mulher gato e Constantine, tem ainda o Fantasma ridículo de Billy Zane e tantos outros tiros na água. O que já deveria deixar Miller de sobreaviso. Ele até que conseguiu fazer um bom trabalho com seu Sin City (o que aumenta minha certeza que quem fez o filme foi mesmo o Robert Rodrigues), e terminou elevando as expectativas para Spirit.
 Atualizar um personagem não é uma tarefa impossível (vide o que a BBC conseguiu com seu Sherlock, já comentado aqui no Beco), mas Miller escorrega feio e fica no meio do caminho e o que vemos da tela é um filme ruim, sem carisma, exagerado e fora do tom. Depois de tanto trabalho bem feito como  Hellboy do Del toro, o Batman do Nolan, os filmes da Marvel, assistir a Spirit foi uma decepção.
Como fã de Will Eisner e do Spirit, e apreciador do trabalho de Frank Miller (até certo ponto), me considero no direito de reclamar e esculhambar com ele! O que ele fez é tão sem próposito que me deixou sem palavras. O filme me irritou e tirou do sério como a muito tempo não acontecia (há muito tempo não vinha aqui no Beco bater em alguém, mas não consegui me segurar)…
E como cereja do bolo, Miller trabalhou nas artes de divulgação do filme, o cartaz negro ao lado  e fez um trabalho porco, como tem sido os seus últimos (não acredito que ele tenha desaprendido a desenha me parece apenas preguiça ou desleixo)
O que só me deixa a certeza que Frank Miller não entendeu o espírito da coisa… é hora de pegar os pincéis e ir para um asilo calmo e lembrar os bons tempos de Ronin e O Cavaleiro das Trevas,  e parar de estragar o trabalho dos outros! Aí embaixo o trailer para os corajosos...

Para quem conhece Wil Eisner, uma visita do Spirit a metrópolis no aniversário do Superman.

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