quarta-feira, 2 de março de 2016

Em manutenção

Heheh... Beco do crime de novo... Parece que estamos voltando a programação normal. Como falei lá no delito do Deadpool, li bastante coisa de quadrinhos. All new marvel, 52... Muita fumaça para pouco fogo. Descaracterização de personagens... Historinhas sem graças... Algumas artes bem bonitas mascarando roteiros rasos e preguiçosos (com algumas exceções como Hawkeye do Matt Fraction e David Aja). Mas li algumas coisas interessantes fora da Marvel e Dc. E é de uma dessas interessantes que falaremos neste delito: Maintenance de Jim Massey e Robbi Rodriguez, publicada lá fora pela Oni Press em 2007. 
Maintenance acompanha o dia a dia de Doug e Manny. E sabem aquela história de todo mundo reclamar do trabalho, do chefe, da secretaria, do boy? Doug e Manny neste ponto ganham de lavada. Os dois são faxineiros, mas não são os faxineiros típicos da Xerox ou Petrobras... Os dois são funcionários da TerroMax, inc, o maior e melhor laboratório maligno da atualidade (pelo menos nas propagandas...), responsável por abastecer os supervilões com raios mortais, mascotes demoníacas e outros produtos de uso impróprio por cidadãos normais e cumpridores da lei.
Na rotina da dupla estão monstros originários de lixo tóxico e reparos em máquinas do tempo que “vazam” realidades diferentes, cientistas loucos como chefes, um homem da caverna equipado com uma mochila a jato, cobradores alienígenas e a bela mocinha da recepção. Nesta louca série, outras obras de ficção científica são homenageadas e rendem grandes aventuras para os protagonistas. Sendo que 99% dessas aventuras são resultados da incompetência dos maléficos cientistas que deveriam gerir a TerroMax. Egocêntricos, convencidos e desconfiados, a trupe trabalha sob pressão e passa o tempo todo tentando se sabotar e provar que um é melhor que o outro. 
Como resultado Doug e Manny têm que lidar com um excêntrico homem-tubarão que atende pela singela alcunha de Punchy McCobra. Um misterioso gato zumbi que vive dentro da máquina de salgadinhos e outros estranhos absurdos. 
Da divertida night com o Punchy, quando a dupla leva o homem-tubarão para um barzinho para entender como funciona a humanidade (e a única referencia de Punchy é uma cópia em VHS de Porkys 2, reprisada a exaustão para o pobre coitado) a uma aventura pelos canos da TerroMax, no melhor estilo Viagem Fantástica, Doug e Manny fazem muito mais que o contrato de trabalho dos dois engloba. E ainda tem que administrar as fofocas e politicagens tão comuns a quem trabalha em uma empresa com grande número de funcionários. 
Os bravos faxineiros seguem a velha rotina de dois indivíduos que de repente se vêem em situações extremas. E logo conquistam a simpatia dos leitores. Enquanto Doug faz o tipo mais prático, pronto para resolver todos os problemas, Manny é o cara mais relaxado, sensível e apaixonado por Mendy, a recepcionista da firma. Mas incapaz de declarar seu amor, sempre conta com o apoio de Doug principalmente quando a moça é sequestrada por alienígenas e eles partem em um ousado resgatado com uma equipe muito louca. 
Com uma variedade de personagens carismáticos, como o já citado Punchy McCobra, o ingênuo homem-tubarão e o alienígena Karl, que caiu na terra e já está a trinta anos enrolando os cientistas para não perder a bocada na TerroMax, Massey e Rodriguez conseguiram criar um quadrinho descompromissado e simpático, perfeito para quem quer fugir das mega-sagas que parecem tomar contar das grandes casas (assunto já comentado antes, quando falamos de Blacksad. Muitas vezes, só queremos ler algo que traga um sorriso, uma gargalhada... Não precisamos combater uma invasão global todo dia.... E é isto que é Maintenance.

Todas as loucuras que Massey imagina encontram um belo contraponto no traço de Rodriguez. Com um trabalho limpo e expressivo, o ilustrador consegue levar o leitor para o universo asséptico dos laboratórios secretos, ao mesmo que vaza lixo tóxico aqui, uma realidade paralela acolá... Em uma série toda publicada em PB, a dupla consegue um resultado estupendo. Sem querer reinventar a roda, Maintenance faz o dever de casa direitinho e entrega o que promete. Com muito estilo e bom humor. E simplicidade e prazer. Um grande supresa.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

#peideiesaí


Amigos leitores, amigos não leitores... Eis que o Beco do Crime está de volta... (pelo menos tentando mais uma vez). E vamos lá. Depois da última passagem aqui pelo Beco, assisti, li e escutei muita coisa boa, muita coisa ruim (particularmente em quadrinhos: novos 52 e all new Marvel, tudo muito bem embrulhadinho mas com histórias bem fraquinhas, personagens irreconhecíveis e muitas vezes risíveis. Porém isso é papo para outro delito). Hoje vamos de cinema e Deadpool.
O mercenário mais tagarela dos quadrinhos ganhou seu filme solo. Depois de uma aparição vexaminosa em X-Men Origins: Wolverine, Deadpool mostrou que seu fator de cura realmente é sensacional e conseguiu a redenção naquela que talvez seja a melhor adaptação de uma história em quadrinhos para o cinema. E grande parte do público não faz a menor idéia de quem seja Wade Wilson. Então antes de falar do filme propriamente dito, vamos situar um pouco o personagens e ajudar aos desligados de plantão…

Wade Winston Wilson, ou Deadpool, foi criado pela dupla Rob Liefeld e Fabian Nicieza em 1991 e fez sua primeira aparição na revista Novos Mutantes, 98. O personagem foi pensado com uma paródia do DeathStroke (Exterminador) personagem da DC (Wade Wilson já é uma sacanagem com Slade Wilson), mas logo assumiu vida própria e se tornou um grande sucesso, muito maior que o homenageado…
Deadpool é completamente desfigurado e mentalmente instável, resultado do tratamento que lhe deu seus superpoderes (Wade sofria de cancer terminal). Falastrão, o personagem chegou a ser comparado com o Homem Aranha no começo da carreira, mas o estilo mais debochado, politicamente incorreto ao extremo e sem medo de zoar a si próprio, deixou bem claro que Deadpool teria vida própria.
Coadjuvante das histórias dos X-Men e Cable, Wade se especializou em roubar a cena e logo ganhou título próprio. Nestas séries, conhecemos um pouco mais do passado do personagens,  vimos seu escracho atingir níveis estratosféricos. E fomos apresentados a alguns personagens bem interessantes, como Outlaw (Inez Temple), Weasel, e Blind AL, uma senhora cega que Deadpool manteve como refem sem nunca explicar por que, uma relação bastante confusa, onde os papeis as vezes se misturavam. Os títulos de Wade nunca foram um grande sucesso de venda, mas sempre tiveram uma base sólida de fãs. E isto nos leva, enfim ao filme!

Deadpool só foi produzido graças a persistência de Ryan Reynolds, o cara sempre sonhou interpretar um personagem de quadrinhos, teve a primeira chance com o Lanterna Verde, mas o fracasso de crítica do filme não o deixou feliz. (E nenhum fã de quadrinhos, diga-se de passagem…) A chance de redenção apareceu com Origens: Wolverine, mas o Deadpool, amado pelos fãs, foi completamente descaracterizado (não consigo entender... adaptar alguma coisa faz parte, mas mexer em time que está ganhando é de uma burrice atroz). E as críticas choveram. Neste mundo conectado uma palavra mal colocada, pode azarar tudo... vide o Quarteto Fantástico de Josh Trank...
A saga para produzir Deadpool continuou em 2010, quando o roteiro apresentado por Rhett Reese e Paul Wernick, responsáveis pelo excepcional Zombieland, vazou na internet. As críticas de sites especializados em HQ’s e cinema e mais a movimentação dos fãs nas redes sociais, acendeu uma luz na FOX. Em 2104, a dupla, junto de Reynolds, gravou uma cena teste que vazou na internet (eles negam que sejam os responsáveis pelo vazamento – a cena é esse video aí embaixo), entretanto a aceitação incondicional da parte dos fãs levou a FOX a dar luz verde para o projeto, porém com um orçamento limitado. E o mais arriscado: liberdade total para Reynolds e companhia...



Este foi o pulo do gato, a trupe trouxe toda a irreverência, sarcasmo e violência para as telas. O tão falado recurso de romper a quarta parede (falar com a audiência) que Deadpool abusa nos quadrinhos também está presente no filme. Palavrões, sangue, sexo, tudo lá... piadas infames, humor negro. E uma censura para maiores de 18 anos nos estados unidos. E um sucesso total de crítica e público. Por quê???
A aposta da FOX se pagou, simplesmente porque respeitaram o personagem e entregaram o que os  fãs queriam. E usaram este fãs e a devoção ao personagem como instrumento de divulgação. Desde o inicio, a equipe soube usar o humor do personagem em piadas para divulgação do filme, isso foi aumentando o hype e a curiosidade sobre o que estava por vir. Somado ao carisma de Ryan, que trabalhou intensamente na divulgação, liberando videos, fotos e tudo que tinha direito em suas redes sociais, Deadpool tinha cheiro de um grande sucesso.

Uma história de origem, uma linda atriz, a brasileira Morena Baccarin, com pouca roupa (mas em ótima interpretação) e vamos a luta. O roteiro não é um primor, mas funciona redondo para história e o filme passa voando... Repleto de referências, trocadilhos, Deadpool brinca e sacaneia todo mundo, pouco se lixando para o que os outro vão pensar. A gozação começa na abertura e continua.. Wade zoa os x-men, laterna verde e tudo que passa na frente... Ainda bem. Blind Al está lá (mais uma vez morando com Wade e foco das zoações), Weasel está lá... uma ótima sacada para o nome do personagem (até então nunca tinha visto esta explicação... tá vendo dá para adaptar e evoluir... ) também está lá... As piadas continuam em um ritmo frenético, até durante os créditos finais. Sem querer estragar para quem ainda não assistiu as duas cenas pós-créditos são perfeitas, quem cresceu nos anos 80 vai matar na hora a referência.
Quem conhece o personagem dos quadrinhos vai enlouquecer com filme, quem nunca viu vai ficar revoltado com tanta baixaria... Foda-se! Este filme não é para você que não tem senso de humor... e não conhece Deadpool. Não é para você que gosta de filme iraniano com panorama de grama crescendo... Este filme é para o fã que quer se divertir e ver seu personagem respeitado. Simples assim. E como bem disse Wade Wilson: #peideiesaí