terça-feira, 2 de novembro de 2010

a faca e o queijo na mão

Outubro já era... Tantas coisas estão acontecendo que não estou tendo tempo para vir aqui no Beco do Crime fazer minha terapia. Mas, nem tudo está parado, continuo na ativa. E cometendo meus delitos aqui e ali. Desta vez, o delito é bem especial: em 2007, eu comecei uma pós-graduação, e logo no começo um dos meus novos amigos, sabendo que eu trabalhava numa editora, me trouxe um livro de um amigo para eu dar uma olhada e se fosse o caso apresentar as autoridades competentes.
Uma semana depois, uma das meninas da editora me chega com o mesmo livro, que recebera de uma outra fonte, para eu dar minha opinião. Não acredito em coincidências. E, resolvi meter a cara no troço.
Confesso que quando vi o volume, primeira obra de um autor desconhecido com mais de 500 páginas, achei um pouco presunçoso... mas já que o livro parecia me perseguir, resolvi dar uma chance. O delito de hoje é exatamente a resenha que foi apresentada a editora, que arrumando uns arquivos por aqui, achei enterrada no fundo de um HD externo.

A Batalha do Apocalipse – Eduardo Spohr

Partindo de um evento bíblico, o autor cria uma trama cheia de ação e mistério, desde os tempos antigos da Babilônia até um futuro próximo. Tendo como fio condutor a eminente chegada do apocalipse, o livro conta a história de Ablon, um anjo que sobreviveu ao expurgo do céu, quando Lúcifer tombou e foi para o inferno e que hoje vive entre os humanos sem poder voltar ao céu, já que foi banido pelo arcanjo Miguel.

A história mostra a luta de Ablon para defender os humanos de Miguel, que com a ausência de Deus, assumiu o controle do céu e reina no paraíso com mão de ferro. Como um déspota, Miguel tenta a todo custa apressar o apocalipse para assim exterminar de uma vez a raça humana e governar sozinho toda a criação.

Na obra se encontram todos os tipos de anjos citados na bíblia, querubins, arcanjos, demônios e outras castas. Alguns nomes comuns para quem conhece um pouco de religião estão no livro, muitas vezes em papéis importantes, como o próprio Miguel, Gabriel, Lúcifer e Asmodeus, Orion, Belzebu e por aí vai.

A autor entra a fundo nos detalhes da guerra que se desenrola no plano espiritual entre os exércitos de Miguel e Lúcifer e todos os outros que são envolvidos no conflito, como Ablon e uma feticeira humana, Shamira, que conheceu na antiga babilônia.

Sem em nenhum momento tentar dar um cunho religioso ao seu trabalho, o autor usa toda esta temática religiosa para criar uma atmosfera diferente para contar a história do Anjo que vive entre nós. Com riqueza de detalhes, ele leva o leitor uma viagem por diferentes épocas de nossa história, muitas vezes passando por momentos conhecidos da história, como por exemplo o nascimento de Cristo e a queda da Babilônia.

A história é interessante e bem escrita apesar de em alguns momentos a riqueza de detalhes quebrar um pouco um ritmo e prejudicar o andamento da trama, gostei muito do livro. Todos as citações a anjos e demônios talvez sejam um pouco confuso para alguém que não tenha alguma bagagem religiosa, mas na minha opinião não atrapalham em nada. Como ponto negativo, acho que a riqueza de informações pode ser um problema, a cada momento que Ablon relembra suas agruras pela história, o autor descreve locais, hábitos da época, vestimentas e outros detalhes minuciosamente. Acho que estas informações devem ser confirmadas antes de serem passadas para os leitores como verídicas. Na realidade, o ponto forte do livro são estes detalhes, se forem reais o livro ganha muito, mas se tudo isto for “fabricado” pelo autor, acho que o livro perde grande parte do seu apelo.

Por razões que desconheço, o livro não emplacou lá. Eu saí, e depois de um tempo, comecei a minha própria editora, e tive a oportunidade de conhecer o Eduardo pessoalmente. Não conseguimos também trabalhar juntos, mas o livro, hoje, é um sucesso e o Eduardo, um amigo e exemplo de onde é possível chegar se você realmente quiser correr atrás.
A batalha do Apocalipse já teve várias capas, eu gosto da primeira, lá de cima, que depois voltou, adaptada na nova edição, revista, revisada e segundo o próprio Eduardo bem melhor que as anteriores! Mas, quem vai comprar agora (é só clicar na capa aí debaixo), não vai ter o prazer de encher para a boca para dizer: EU LI ANTES!!

e para explicar, o título do delito, nem sempre estar com faca e o queijo na mão é sinal de que você vai degustar o queijo... alguma vezes o queijo escapa...