Meu pai foi o cara que me ensinou a andar de bicicleta, nadar, jogar bola e junto com minha mãe me incutiu o prazer da leitura. Durante muito tempo, um comprava um livro para outro já pensando em ler o presente, depois que eu saí de casa, os livros passaram a viajar de um lado para outro, às vezes, voltava um livro que o outro já tinha lido. Nem sempre os gostos eram os mesmos, volta e meia vinha uma bomba para cá, ou segundo ele, um torpedo para lá...
A última recomendação dele foi a série do comissário Montalbano, de Andrea Camilleri. No início fiquei um pouco receoso (um pouco de preconceito, confesso) não imaginava que um velhinho italiano conseguisse escrever um bom policial. Mas Andrea Camilleri é bom demais!
Salvo Montalbano, comissário de polícia na fictícia Vigàta dos dias de hoje e personagem central inúmeros romances, novelas e contos. Sucesso de vendas na Itália, (o que significa alguns milhões de exemplares vendidos de cada livro), já teve várias histórias transformadas em filmes para televisão.
Camilleri conta que, após escrever o primeiro romance de Montalbano, A forma da água, não tinha intenção de manter o personagem. Porém o sucesso do livro levou-o a desenvolver outras tramas e fazer de Montalbano um protagonista singular: o siciliano circula numa realidade que não responde às exigências da lógica elementar, move-se entre obscuridades e indefinições, tem marcas humanistas fundas, mas nem sempre as manifesta em meio às aparências e às cerimônias que deve desempenhar no cotidiano.
Nas histórias de Camilleri, a personalidade única do comissário é exposta de forma direta e, na maior parte das vezes, risível. O texto, escrito de forma simplificada – principalmente pela escolha das palavras e pela ordem direta das frases – apresenta a Sícilia ao leitor.
O humor de Montalbano oscila, de ensolarado a nebuloso, conforme o clima da ilha. Come com voracidade e em quantidades impressionantes, mas ritualiza as refeições. O seu bom gosto gastronômico e as detalhadas descrições do autor sempre me dão água na boca. É quase sempre machista. É vulgar, grosseiro, e nas horas de humor nebuloso ou diante de obrigações burocráticas, é mestre em dar respostas ásperas e pelos palavrões, seus comandados na delegacia são sempre vítimas deste mau-humor crônico. Tem uma namorada, Lívia, que mora em Gênova, mas é ciumento e quase sempre quando envolvido em um caso, esquece da moça. Em suas aventuras, sempre se envolve com alguma bela mulher, que no final das contas termina sua amiga. O mais interessante de Salvo Montalbano é que nos livros e contos que li, ele apesar de resolver todos os casos (algumas vezes, a inspiração/solução vem quando eles está no banheiro...), nunca efetua uma prisão...
Aí em cima, tem uma foto de Montalbano e Livia da série de TV. Recomendo a leitura, quem gosta de um bom policial vai adorar. E papai, obrigado.
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